Leon Thomas; espiritualidade e visceralidade desenfreada, um multiartista que disseminou sua arte como poucos.
Leon Thomas foi e ainda permance um dos mais originais e talentosos vocalistas de jazz de todos os tempos, Leon chocou o mundo do jazz com sua incrível capacidade de tocar diversos instrumentos como também sua potência vocal profunda, meticulosa, única com seus gritos em variações modulantes que trouxeram uma autenticidade e força em seu trabalho na década de 60, tanto que Pharaoh Sanders o convidou para participar do magnífico álbum “The Creator Has a Masterplan” em 1969.
Leon nasceu em East St. Louis, Illinois, em 4 de outubro de 1937, e estudou música na Universidade Estadual do Tennessee, mudando-se para Nova York em 1958. Teve em seu percurso as primeiras sessões e colaborações musicais em contato com músicos como Count Basie, Randy Weston, Roland Kirk e Oliver Nelson antes de se juntar a Pharoah Sanders para uma parceria que continua a atrair ouvintes até hoje, e sem dúvidas é o seu trabalho mais conhecido de todos.
Leon gravou dois dos clássicos mais renomados de Sanders, “Karma” (1969) e “Jewels Of Thought” (1970), e seus vocais nos cortes “The Creator Has A Master Plan” e “Hum-Allah” garantiram sua reputação e identidade musical. Assim como a guitarra surpreendente de Sonny Sharrock foi o único contraste para o saxofone cortante de Pharoah, Leon Thomas tinha o virtuosismo, a intensidade e a originalidade para acompanhar Sanders. Foi nessas gravações que Leon revelou seu dom vocal único, que pode ser melhor descrito como uma espécie de sons estranhos, fora do ritmo e vibrações e ecos que parecem brotar de sua alma.
Tendo colaborado com o grande Pharoah Sanders, Leon estava pronto para uma carreira solo, foi aí que o selo musical Flying Dutchman fez um acordo. A gravadora proporcionou total liberdade e apoio para o artista e Thomas respondeu a esse ambiente com uma série de ótimos álbuns.
Ele começou com o grande “Spirits Known And Unknown” (1969), seguido rapidamente por “The Leon Thomas Album”. Alguns álbuns ao vivo envolventes se seguiram antes do lançamento de dois álbuns excelentes, “Blues And The Soulful Truth” (1972) e “Full Circle” (1973), o primeiro deles foi um LP baseado em blues cheio de vivacidade e humor ácido que incluiu uma tomada vocal de “Gypsy Queen”, que é uma prova da invenção de Thomas.
Esses álbuns de Leon Thomas foram uma mistura inebriante de soul-jazz, free-jazz, blues, espiritual incluindo percussão latina, influência afro-cubana. Todas essas misturas abriram caminhos pela espiritualidade, consciência preta, poder preto, intersecções diaspórica e política anti-guerra do Vietnã. Ele estava na vanguarda da música preta radical que tinha John Coltrane como sua figura de destaque como também os discos do selo da Black Jazz Records.
O perfil de Thomas foi de extrema importância na cena do free jazz, como testemunhado por encontros com figuras importantes do movimento como Ornette Coleman, Roland Kirk e Archie Shepp, mas ele também estava chamando a atenção de alguns dos grandes nomes do jazz, incluindo Louis Armstrong e Johnny Hodges. Em uma das combinações mais curiosas, mas estimulantes do jazz, Leon Thomas apareceu no último álbum de Louis Armstong e gravou uma versão de “The Creator Has A Master Plan” com o próprio Louis, versão essa de maior maestria como a original, em que Leon divide os vocais com Louis Armstrong em uma troca única, ainda mais por Louis Armstrong se aventurar em algo mais espiritual do que seu trabalho no jazz e blues de base.
Thomas foi convidado a ingressar na banda do Santana em 1971, onde permaneceu por dois anos. A turnê de Santana em 1973 foi possivelmente a maior da história da banda e Thomas adicionou uma enorme gravidade a Santana que ajudou a colocá-los na estratosfera do jazz latin soul. Thomas teve o papel de vocalista e multi-instrumentista; por exemplo, além das maracas que lhe são creditadas na manga do Lotus, ele trouxe uma variedade de apitos, flautas e até conchas para o som de Santana ao vivo
O ritmo da virada foi demais para Thomas e ele deixou Santana no final do ano e ele entrou em uma espiral descendente de indulgência e indolência que durou alguns anos. Ele fez uma turnê pela Europa com Freddie Hubbard em 1979, uma parceria que gerou o agradável “A Piece Of Cake” (1980) e mais tarde na década de 1980 ele retomou seu relacionamento com Pharoah Sanders e gravou faixas com ele nos álbuns “Shukuru “(1983) e“ Oh Lord, Let Me Do No Wrong ”. (1987) Shukuru incluiu o que pode ser a melhor composição de Leon Thomas, a requintada “Sun Song” que é um hino à meditação, mas consegue transmitir sentimentos de paz, tranquilidade e elevação ao ouvinte. “Oh, Lord Let Me Do No Wrong,” foi mais um trabalho de blues e Thomas continuava com uma ótima voz contribuindo com novas músicas como “If It Wasn’t For A Woman”.
O lançamento mais recente de Leon Thomas em 1993 com “Precious Energy”, um data ao vivo veio gravada em conjunto com o saxofonista Gary Bartz. Isso inclui uma versão gigantesca da grande “Sun Song“.
A história fica um pouco triste depois disso, com Leon descendo ainda mais para sua adicção em drogas, e ficando novamente um pouco atrás da música, até que gravou em 1994 um novo material para um álbum que, infelizmente, ainda não foi lançado. Em 1999 Leon Thomas nos deixa, porém com um enorme legado e com obras que ainda continuam empoeirada na cabeça de muitos ouvintes do jazz. Viva Leon Thomas!