We Insist! O grito do jazz pelos direitos civis
“We Insist! — Freedom Now Suite”, álbum do lendário baterista Max Roach, em co-autoria com Oscar Brown Jr, completa 61 anos desde seu início de produção em 1959, e lançado oficialmente em 1960, o álbum é importante na conjuntura dos movimentos de protestos afro-americano na década de 60 e um dos principais registros da aproximação do jazz com os temas políticos do seu tempo, que ganhou força naquele período com nomes como John Coltrane, Charles Mingus e Nina Simone. Sua forte mensagem, porém, continua relevante nos dias de hoje.
O disco representa todo um grito de liberdade em prol dos direitos civis e justiça pelos que viveram a conjuntura da segregação racial naquela época, sintetizadas claramente em certos trechos nos quais a opressão dos escravos e imigrantes são expostas de uma maneira brutal e arrebatadora.
A vocalista Abbey Lincoln expressa essa opressão com uma tremenda vivacidade em seus vocais intensos e dramáticos, numa mistura de lamento e grito de resistência. A sua performance acentua as letras escritas por Brown que contam a história da luta de afro-americanos em tempos sombrios; desde a escravidão até o movimento dos direitos civis. Exemplo disso é a faixa Freedom Day, um canto potente e ressonante de liberdade.
Musicalmente, Roach montou uma das maiores bandas, com o trombonista Julian Priester e o trompetista Booker Little, junto a Coleman Hawkins e ao menos conhecido e subestimado tenor saxofonista Walter Benton. Os percussionistas Ray Mantilla e Michael Olatunji deram às peças poéticas cantadas por Lincoln suficiente substância trazendo elementos musicais de países caribenhos (como Cuba), América do Sul e África — países e continentes que ainda sofrem preconceitos raciais e necessitam a urgência de mudança.
Um álbum atemporal, esteticamente e musicalmente à frente do tempo, apresentando fusões entre o spiritual jazz, free jazz e elementos africanos. Freedom Now não é apenas um álbum e sim um estudo e debate social que ainda é pertinente para os dias atuais em que vivemos. Continuamos insistindo e gritando pelos direitos civis!